O carvão está de volta ao mercado global energético, provocando uma alteração profunda geografia nas emissões de CO2. Com efeito, a principal fonte carbónica da economia planetária será a região da Ásia-Pacífico e já não o hemisfério ocidental.
Conforme pode ser visualizado neste artigo do Guardian, um estudo elaborado recentemente pela Greenpeace mostra que as novas “bombas de carbono” globais localizam-se no eixo China-Indonésia-Austrália. E qual a razão? Exploração e produção de energia com base em carvão.
A Agência Internacional de Energia (AIE) confirma esta preocupante tendência: em 2017 o carvão estará perto de ultrapassar o petróleo como a principal fonte energética mundial. Nesse ano, o mundo queimará mais 1,2 mil milhões de toneladas do que actualmente, superior ao consumo combinado dos EUA e da Rússia.
China dependente do carvão
E porquê? Primeiro, por causa da China. Em 2009, o Império do Meio tornou-se pela primeira vez um importador líquido de carvão, ultrapassando Japão. E continua a subir. Segundo, a Indonésia tornou-se o maior exportador mundial de carvão, com mais de 300 milhões de toneladas colocadas no mercado. Mas a Austrália deverá passar à frente do arquipélago indonésio como maior exportador desta fonte energética, com 408 milhões de toneladas por volta de 2025 e já com 309 milhões em 2017.
E a AIE prevê que a Índia também aumente o seu consumo de carvão devido às enormes reservas de que dispõe. Sendo um recurso energético barato e seguro no abastecimento, provavelmente será a resposta indiana para resolver a universalidade do acesso à energia (possui o maior nível de pobreza energética do mundo) e assegurar a fiabilidade do sistema, terminando com os gigantescos blackouts pela qual a economia indiana é tristemente famosa.
Alemanha diversifica para o carvão
Até a Europa não escapa a esta vaga carbónica. Devido às enormes reservas de shale gas nos EUA, estes diminuíram o consumo de carvão, exportando-o e levando a uma quebra do preço no mercado. Como o preço do gás na Europa é muito mais elevado do que nos EUA, o consumo de carvão disparou.
E como a Alemanha vai desligar as centrais nucleares mais cedo do que o previsto, a revolução energética de Merkel (a célebre Energiewende ) propõe a geração de 35% de electricidade com base em eólicas e os restantes 65% com base em… carvão, queimado em centrais de captura e sequestro de carbono (segundo, as últimas análises da AIE, cada MW gerado por esta tecnologia custa 90€).
Obama e a oportunidade de negócio das alterações climáticas
A emergente nova geografia do CO2 também trará uma nova geopolítica no quadro global das alterações climáticas. Com efeito, o Ocidente tem aqui uma oportunidade de ouro para vender “tecnologia verde” às economias emergentes para estas mitigarem os elevados níveis de poluição e de emissões carbónicas provocados pelas centrais a carvão.
Finalmente, os EUA já encontraram uma forma de lucrar com as alterações climáticas. E é por isso que Obama dedicou uma boa parte do seu discurso de tomada de posse a este tema , com este ponto escondido na agenda: vender tecnologias ambientais, eco-eficientes e energeticamente limpas às economias emergentes da região Ásia-Pacífico.
Será o carvão ironicamente o impulsionador do “capitalismo verde” à escala global?
Nenhum comentário:
Postar um comentário