No dia que o mundo dedica à
natureza, governo de Minas assume tarefas hoje exclusivas do Ibama, que
reforçará atuação em áreas como o tráfico internacional de animais. Nova missão
é considerada teste para capacidade de fiscalização estadual
Entre
a expectativa de potencializar a capacidade de fiscalização do sistema nacional
de defesa ambiental e o temor de criar um vazio no controle das agressões à
natureza, Minas começa hoje a adotar um novo modelo de gestão e proteção à
fauna. Nele, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (Semad) assume funções hoje de competência exclusiva do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Missões
que o órgão federal não conseguia cumprir a contento, diante da falta de
pessoal, se tornam desafio também para o estado, conforme alerta o Ministério
Público, que promete agir para evitar falhas que comprometam o monitoramento
dos crimes contra o meio ambiente. No acordo de cooperação que será assinado
hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, em BH, Minas se responsabilizará por ações
básicas, enquanto o Ibama passará a atuar, prioritariamente, no combate ao
tráfico de animais e à biopirataria e nos casos de espécies ameaçadas de
extinção.
A parceria
cumpre determinação da Lei Complementar 140, de dezembro de 2011, que
descentraliza a gestão ambiental, ao prever a cooperação entre União, estados e
municípios nas questões ambientais. Minas é o sétimo estado a assinar o acordo,
depois de Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e São Paulo. O
presidente do Ibama, Volney Zanardi Júnior, diz que tudo está sendo feito de
forma gradativa a pedido dos estados, uma vez que a lei não prevê regras de
transição. Um plano de trabalho, que compreende capacitação de pessoal e o
repasse dos sistemas de comunicação, foi elaborado para que a gestão seja
assumida integralmente em nível estadual, no prazo de 31 meses. “Continuaremos
presentes, mas essa é uma forma de dar mais capacidade ao sistema e entregar
mais serviços à comunidade”, afirma.
O
superintendente do instituto em Minas, Evandro Xavier Gomes, afirma que a
gestão será compartilhada, evitando sobreposição de tarefas, com estados e a
União se ocupando das mesmas ações. “Quem ganha é o sistema nacional do meio
ambiente, acabando com a insegurança jurídica, com esforços desnecessários e
consolidando parceria. O Ibama não está se enfraquecendo. Passará a atuar em
outras áreas. Vamos mudar nosso foco”, ressalta.
O
plano de trabalho em Minas tem cerca de 80 atividades, de acordo com o
secretário de Estado de Meio Ambiente, Adriano Magalhães. Uma das primeiras
providências será investir na infraestrutura dos Centros de Triagem de Animais
Silvestres (Cetas) e dos Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras),
bem como a admissão de biólogos, veterinários e uma equipe técnica que cuidará
dos espécimes apreendidos.
A
aquisição de caminhonetes e outros materiais também será necessária. “O Ibama
conta com seis técnicos para a gestão da fauna em Minas Gerais. Estamos
contratando 42 profissionais”, afirma o secretário. Esses servidores serão
distribuídos entre os setores de licenciamento ambiental, de fiscalização e o
Instituto Estadual de Florestas (IEF). “Vamos fazer também um convênio com a
Polícia Militar Ambiental, para que possa atuar nessa questão. No caso de crime
contra a fauna a corporação já tem a obrigação de agir, mas com relação à
gestão, vamos capacitá-la”, completa.
Segundo
Adriano Magalhães, outra ação a ser desempenhada é estabelecer um marco
normativo na captura e tratamento dos animais, para que haja um padrão em todo
o estado. Para os projetos, o governo estadual tem verba de R$ 6 milhões. O
secretário acredita na possibilidade de antecipar o prazo, para que o estado
assuma a gestão da fauna integralmente até meados do ano que vem.
DESCONFIANÇA
O coordenador-geral das promotorias de Defesa do Meio Ambiente de Minas Gerais,
Carlos Eduardo Ferreira Pinto, vê com reservas o acordo, embora já esperasse a
formalização da parceria, prevista na Lei Complementar 140. Ele teme que o
estado não esteja preparado para receber as atribuições do Ibama, e justifica
que há ações movidas pelo Ministério Público em que o governo é responsabilizado
por danos ao meio ambiente. “O estado nem sequer tem hoje atuação eficiente no
controle das atividades e fiscalizações dos licenciamentos. É um desafio,
porque é mais uma atribuição”, critica. “O risco é que, nessa troca de
atribuições, nenhum dos níveis fiscalize”, alerta o promotor, afirmando ainda
que o MP vai acompanhar a implantação do convênio.
Confins
ganha ‘bioalfândega’
Uma
das atribuições a serem assumidas pelo Ibama após a divisão de
responsabilidades com os estados é a fiscalização em aeroportos. O trabalho
começará já na Copa das Confederações, como teste para o Mundial de 2014.
Cinquenta agentes vão atuar nos terminais das seis cidades-sede - Belo
Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador -, além de
Manaus e São Paulo. Haverá orientação a passageiros e controle de bagagem em
caso de suspeita de tráfico de animais silvestres, exemplares da flora e até
agrotóxicos.
O
superintendente do Ibama em Minas, Evandro Xavier, explica que, no aeroporto
internacional de Confins, na Grande BH, o controle será feito em horários
específicos, dando prioridade a voos internacionais e aos originários de pontos
estratégicos, como o Amazonas. A ação será fortalecida com a presença de
profissionais especializados, como biólogos e engenheiros florestais, que
ajudarão na identificação de substâncias e animais.
O
presidente do instituto, Volney Zanardi Júnior, ressalta que, pela primeira
vez, a prioridade será o acompanhamento de pessoas. Hoje, a fiscalização visa
principalmente a cargas, avaliando produtos não identificados e embalagens
suspeitas. Ele acrescenta que nos aeroportos mais críticos são constatados
problemas de contrabando de agrotóxicos, de animais silvestres e peixes
ornamentais.
PET
O Ibama promete consolidar, em breve, a relação dos animais silvestres que
serão definidos como de estimação. Sem informar quais exemplares, Zanardi
Júnior adiantou que a chamada “Lista Pet” é composta, na maior parte, por
pássaros, a grande demanda por controle. A medida cumpre resolução do Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama), que prevê a especificação dos espécimes que
podem ser mantidos em casa. Para a elaboração da lista o Ibama fez estudos
técnicos e consultou vários setores da sociedade. (JO)
Fonte:
Estado de Minas
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