Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
O espanhol virou a língua estrangeira mais falada na Usiminas. A empresa contratou este ano 23 argentinos para ocupar cargos de comando. São gerentes, gerentes gerais e diretores. A maior parte chegou até meados do ano, os últimos há pouco mais de um mês. Eles foram trazidos pelo atual diretor-presidente, o também argentino Julián Alberto Eguren, que assumiu o comando da empresa em janeiro após a entrada da Ternium, da gigante ítalo-argentina Techint, como sócia da siderúrgica mineira.
Os argentinos se tornaram o grupo de expatriados mais numeroso da empresa - embora eles e outros estrangeiros não representem mais do que 10% dos profissionais em cargos de gestão. A interação entre argentinos e os funcionários brasileiros, diz a empresa, tem sido muito proveitosa. Mas quem conhece iniciativas de "importação" de profissionais para comandar equipes no exterior diz que desgastes e desajustes são inevitáveis nesses casos.
Os 23 argentinos vieram todos da Ternium e firmaram contrato para ficar no Brasil por três anos. Alguns já haviam trabalhado diretamente com Eguren que, antes de se mudar para o Brasil, trabalhou no México. O grupo foi distribuído entre Belo Horizonte, Ipatinga (MG), São Paulo e Cubatão (SP). A maioria está em cargos novos - como diretoria de supply chain - ou em vagas que haviam sido congeladas, diz Vanderlei Schiller, vice-presidente de recursos humanos e desenvolvimento organizacional da Usiminas.
Mas por que tantos argentinos em cargos de comando? Não haveria na empresa gente com experiência e conhecimento suficientes para as posições? Essas e outras dúvidas provavelmente vêm martelando na cabeça dos funcionários da Usiminas que passaram a lidar diretamente com os recém-chegados estrangeiros. "Foi uma opção para tornar o corpo gerencial da Usiminas mais qualificado", diz Schiller. "É uma questão de experiência. A maioria desses executivos já passou por outros países e viveu desafios semelhantes aos que a organização enfrenta atualmente".
Schiller nota diferenças na forma como os brasileiros e os argentinos atuam nestes primeiros meses de convivência na Usiminas. Até que ponto isso tem a ver com as culturas de cada uma das empresas - Usiminas e Ternium - ou com a nacionalidade é algo difícil de avaliar. "No lado brasileiro, há mais flexibilidade e voluntariedade. No outro, um estilo um pouco mais disciplinado e focado", diz o vice-presidente. Mas não são, acrescenta ele, diferenças gritantes. Além disso, a junção da experiência internacional com a vivência local têm começado a produzir resultados positivos em um momento em que o setor siderúrgico patina em todo o mundo, diz.
Um relatório de novembro produzido pelo Deutsche Bank elogia a empresa, dizendo que a nova administração está impondo uma forte eficiência operacional, que provavelmente trará aumentos na produção e no retorno nos próximos anos. O título do relatório exalta uma característica atribuída por Schiller aos argentinos: "A disciplina está de volta".
Mas nos corredores, nas relações pessoais, qual é a predisposição do corpo de funcionários da Usiminas - muitos há décadas na companhia - em aceitar a nova relação com os "disciplinados" argentinos? "Se eles vieram para cá para mudar a cultura da empresa, principalmente em Ipatinga, vão dar com os burros n'água", diz o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Ipatinga, Luiz Carlos Miranda. E acrescenta: "Em termos de gestão, de capacidade de operação e em conhecimento tecnológico, não temos nada a aprender com eles". Apesar da acidez, Miranda diz não ter conhecimento de nenhuma aresta com os novos funcionários. Os argentinos vieram com a missão de aprender português, o que pode ajudar muito na relação de trabalho no Brasil.
Clara Linhares, professora de gestão de pessoas e coordenadora técnica do curso de especialização com ênfase em pessoas da Fundação Dom Cabral, diz que a contratação de estrangeiros em geral "oxigena" as organizações e estimula os funcionários locais, uma vez que se deparam com colegas com bagagem e ideias diferentes. Há um outro lado, porém, que parece inevitável. "Tenho certeza que os funcionários da Usiminas se perguntaram se não haveria ninguém no Brasil que pudesse desempenhar a função dos argentinos".
Para ela, é claro que os brasileiros da empresa que lidam com os novos gestores diariamente estão sendo retirados de sua zona de conforto. "Isso pode gerar conflitos e baixa produtividade em alguns momentos. Ao mesmo tempo, pode ser um desafio e uma oportunidade."
Fonte: Valor Econômico
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