quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Entrevista: “A geografia está na moda”

Paulo Roberto Fitz, autor dos livros “Geoprocessamento sem complicação” e “Cartografia Básica”, lançados pela Oficina de Textos, trabalha com geoprocessamento há quinze anos. É especializado em Geografia Ambiental e tem mestrado em Sensoriamento Remoto e doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, todos pela UFGRS . Atualmente é professor adjunto, pesquisador e coordenador do curso de Geografia da Unilasalle – Centro Universitário La Salle. Nesta entrevista, Fitz fala sobre sua experiência na área, comenta o uso e o ensino do geoprocessamento no Brasil e alerta para as possibilidades que os profissionais de geografia podem estar perdendo.
 
Conhecimento Prático Geografia: Considerando o tempo que você atua na área, como você avalia a evolução do geoprocessamento no Brasil?
 
Paulo Roberto Fitz: Grosso modo, eu trabalho com geoprocessamento há 15 anos e nesse período é muito notável um avanço principalmente na parte de hardware e software. Naquela época não existia nada, eram pouquíssimos programas, e hoje temos uma infinidade, tanto de programas pagos quanto livres. Sem falar na facilidade maior dos próprios softwares, que hoje têm uma interatividade maior com o usuário. Antigamente as coisas eram mais difíceis.
 
Hoje os softwares são mais amigáveis e foram agregando outras ferramentas, como geoestatística, que antes era preciso ter um trabalho paralelo para fazer certas análises. Essa evolução vem desde a década de 1960, eu peguei apenas as últimas décadas. Outra coisa que mudou muito foi a aplicação: hoje em dia qualquer empresa pode, antes de um investimento em uma nova filial ou antes de decidir onde se estabelecer em termos comerciais, fazer uma pesquisa de mercado para ver se o local que escolheu é adequado. Ou seja, não só órgãos públicos passaram a usar essas ferramentas, as empresas privadas também descobriram que podem utilizá-la para aferir mais lucros. Para as empresas, isso é uma segurança.
 
Outra aplicação é a tecnologia de GPS : você anda com um SIG dentro do automóvel. Esses tipos de aplicações da tecnologia do geoprocessamento há dez anos eram sonho, pois tecnologicamente não era possível, a gente só imaginava. E está cada vez está crescendo mais.
CP: Geografia Para você, qual é o vínculo entre o Sistema de Informações Geográficas (SIGs) e Geografia?
 
Paulo Roberto Fitz: Quando eu era estudante de geografia, lá na década de 1980, por ter começado antes fazendo engenharia e depois ir fazer geografia, eu via na geografia a possibilidade de trabalhar algumas coisas mais interessantes em termos de aplicabilidade prática. E já se fazia alguma coisa desse tipo, como sobreposição de mapas, de transparências, fotointerpretação. Nada mais é que uma forma rudimentar de fazer geoprocessamento. Essas coisas todas eram trabalhadas em geografia e, a partir disso, se fazia análises, mas não existia a tecnologia, era tudo na base da caneta.
 
A tecnologia apenas acelerou esse processo e melhorou sua execução. Ela possibilitou fazer isso dentro do computador, e essas construções passaram a ser muito mais precisas e mais rápidas. A coisa nasce dentro do time de análise geográfica, sendo necessários para a análise todos os segmentos de conhecimento que se adquire dentro das disciplinas tradicionais do tronco da geografia.
 
O que eu vi e andei conversando com o pessoal dos outros países: eles pensam assim, veem a geografia como uma espécie de precursora de toda essa tecnologia, porque a geografia já fazia isso antes de todos esses softwares. Hoje ficou muito fácil para fazer geoprocessamento, e o pessoal das outras áreas começou a perceber esse crescimento tecnológico, a se apoderar dessas ferramentas. E nós, geógrafos, ficamos a ver navios, apesar de esse tipo de análise ter nascido da geografia. Mas, ainda hoje, o trabalho interpretativo de análise dos dados gerados por essa tecnologia tem que ser feito por um profissional, e o profissional mais adequado para isso é o geógrafo, pelo tipo de conhecimento que ele tem (ou deveria ter) no decorrer da universidade. Os EUA são os precursores da área de geoprocessamento e quem trabalha com isso lá são geógrafos, como na maior parte do mundo. Aqui no Brasil perdemos bastante espaço para outras profissões.
 
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Fonte: UOL

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