O
Falcão, primeiro veículo aéreo não tripulado (VANT) para uso militar do Brasil,
deve realizar seu primeiro voo de teste de qualificação já em 2014. A aeronave
possui cerca de 800 quilos e é desenvolvida para o uso das Forças Armadas do
Brasil, em missões de reconhecimento, aquisição de alvos, apoio a direção de
tiro, avaliação de danos e vigilância terrestre e marítima.
A
aeronave Falcão possui autonomia de 16 horas e pode carregar cerca de 150
quilos de equipamentos. Produzida com fibra de carbono, sua plataforma pode
transportar mais combustível e equipamentos do que outros aviões não tripulados
da mesma categoria. A maior parte da estrutura do drone é desenvolvida com
tecnologia brasileira, como sistemas de navegação e controle, eletrônica de
bordo e a plataforma do avião. Já sensores e câmeras ainda precisam ser
adquiridos de outros países.
O
primeiro protótipo do Falcão já foi concluído e está em fase de adequação para
voos experimentais. A aeronave foi desenvolvida pela Avibras e agora integra o
portfólio de produtos da Harpia, uma empresa formada pela sociedade entre
Embraer Defesa e Segurança, que detém 51% das ações, Avibras e Ael Sistemas,
subsidiária da israelense Elbit Systems.
De
acordo com o coordenador do projeto na Avibras, Renato Bastos Tovar, o Falcão
está sendo adaptado para atender às exigências apresentadas pelas Forças
Armadas, divulgadas em julho no Diário Oficial da União. A expectativa dos
executores é de que seja possível firmar um contrato para desenvolver dois
protótipos até 2016. Os próximos passos são exportar o drone para outros países
e adaptá-lo para uso na área urbana, o que ainda não é permitido no Brasil.
“O
Falcão está no mesmo nível tecnológico dos VANTs similares estrangeiros. Em
termos gerais, o Brasil está muito bem posicionado em nível mundial em
tecnologia aeronáutica”, explica o engenheiro aeronáutico Flávio Araripe
d’Oliveira, coordenador do projeto VANT no Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial do Instituto de Aeronáutica e Espaço (DCTA/IAE), que atua no
projeto de desenvolvimento do sistema de controle de navegação do drone.
Sistema
de navegação
O
desenvolvimento do sistema de navegação do Falcão utiliza como plataforma de
ensaio outro drone nacional, o Acauã. Com 150 quilos, ele começou a ser
desenvolvido na década de 1980, quando foram produzidos quatro protótipos. A
pesquisa parou por falta de verba e foi retomada em 2005, com recursos da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e apoio do Ministério da Defesa. “Já
foram feitos 59 voos com sucesso. Atualmente, ele precisa de um piloto externo
para pouso e decolagem. Estamos desenvolvendo um sistema para que estes
procedimentos sejam automatizados”, explica d’Oliveira.
Desde
2010, o Brasil possui drones israelenses, adquiridos pela Polícia Federal e
Força Aérea Brasileira (FAB). Os equipamentos auxiliam em operações de proteção
de fronteiras, grandes eventos, como a Copa das Confederações, e outras ações
de segurança e monitoramento. “Os fuzileiros navais também já estão usando um
drone menor, fabricado por uma empresa brasileira. Outra companhia tem uma
proposta para o Exército. Estes equipamentos são muito úteis para dar apoio aos
soldados”, comenta d’Oliveira, que destaca a importância destes projetos para
independência tecnológica do Brasil.
Falta
de regulamentação
A
indústria brasileira de desenvolvimento de drones ainda é formada por empresas
de pequeno porte, que produzem equipamentos com até 25 quilos. Existem 12
fabricantes no país, das quais apenas uma é considerada de grande porte, por
desenvolver equipamentos maiores.
Para
a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança
(Abimde), o principal entrave para o mercado dos drones é a falta de regulamentação
do setor. Hoje não existe no Brasil uma norma que regule os padrões de produção
e de circulação aérea destes equipamentos. Esta situação gera insegurança na
cadeia produtiva, diz o presidente do comitê de VANTs da Abimde, Antônio
Castro. “Existem empresas que desenvolvem tecnologias equiparáveis às de outros
países e têm capacidade de fornecer VANTs para diversos setores, mas a falta de
regulamentação ainda impede a comercialização adequada destes equipamentos.”
No
Brasil, apenas três drones civis já receberam certificados de autorização de
voo experimental (Cave) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Estas
aeronaves podem circular apenas em áreas pouco povoadas e não é permitida
operação visando lucro. Para solicitações de uso comercial, a Anac informou que
é feita análise individual de cada caso. Mesmo assim, os voos devem ocorrer em
áreas restritas, com data, horário e itinerário definidos, e longe do espaço
aéreo comum onde outros aviões circulam. A regra vale para drones de todos os
portes.
De
acordo com dados da FAB, de janeiro de 2012 a julho de 2013 foram feitas 90
solicitações de uso do espaço aéreo brasileiro por drones nacionais. Destes, 52
foram autorizados e oito continuam em análise. Não há informações sobre o
número total de drones que trafegam no espaço aéreo brasileiro, mas
representantes da indústria e dos órgãos de segurança reconhecem que há
equipamentos voando sem autorização.
Em
nota oficial, a Anac informou que espera publicar uma regulamentação para o uso
civil destas aeronaves até 2014. Uma normativa do Departamento de Controle do
Espaço Aéreo determina que elas só podem circular em uma área chamada de espaço
aéreo segregado, onde não há circulação de qualquer outro tipo de aeronave. A
FAB justifica esta decisão pela ausência de um piloto a bordo e pela
impossibilidade dos drones cumprirem uma série de requisitos previstos nas
legislações aeronáuticas, em especial, as relacionadas à capacidade de detectar
e evitar acidentes.
Fonte:
Terra citado por MundoGeo
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