quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Produtores, ONGs e governo se unem para promover pecuária sustentável no Pará

São Félix do Xingu, 14 ago (EFE).- Quem chega hoje em São Félix do Xingu, município do sul do Pará que tem aproximadamente o mesmo tamanho de Portugal e o maior rebanho bovino do Brasil, e vê produtores rurais, frigoríficos, ONGs e poder público atuando juntos para adotar práticas mais sustentáveis na pecuária não imagina o cenário em que a região se encontrava há cerca de quatro anos.

'Quando chegamos em São Félix para conversar com os produtores rurais, fomos recebidos com faixas e protestos que pediam nossa saída. Órgãos ambientais eram vistos como repressores, e ONG's como empecilhos ao desenvolvimento. Hoje, a filosofia mudou, não basta só reprimir', conta o norte-irlandês Ian Thompson, diretor do Programa Amazônia da ONG The Nature Conservancy (TNC).

Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente publicou a lista com os municípios brasileiros que mais desmatam, o que na prática significou o corte de crédito e outras dificuldades para os campeões do desflorestamento.

São Félix do Xingu entrou na lista negra e sua economia sofreu um forte baque econômico. No ano seguinte, o Ministério Público Federal Publicou publicou o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) da pecuária no Pará, que proibiu proprietários que desmatam de comercializar seu gado, e frigoríficos de comprar de quem não respeita uma série de normas ambientais e trabalhistas.

Como resposta à crise, os próprios frigoríficos convidaram a TNC para atuar na região inscrevendo as propriedades locais no Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que já tinha sido feito com sucesso pela organização ambiental em outro município do estado, Paragominas.

Uma das condições para os municípios saírem da lista negra do desmatamento é terem 80% de suas propriedades no CAR, espécie de CPF rural. Outra é reduzir o desmatamento para menos de 40 km² por ano (São Félix tem uma área de 84 mil km²).

'O CAR utiliza imagens de satélite para mapear os imóveis rurais. A partir dele, é possível auxiliar o produtor a identificar e recuperar as áreas de Reserva Legal e Proteção Permamante que precisam ser restauradas. Os pecuaristas só podem vender gado se tiverem CAR, e os frigoríficos só podem comprar de quem tem', explica Fábio Pereira, gerente de adequação ambiental da TNC no sul do Pará.

No ano passado, surgiu mais uma iniciativa que se une aos esforços para desenvolver a região: o Grupo Marfrig e a rede Walmart decidiram apoiar em de São Félix do Xingu e na vizinha Tucumã o projeto Pecuária Mais Sustentável, que tem como objetivo tornar o setor mais responsável e rentável.
A TNC cuida da gestão ambiental dos imóveis que fazem parte da iniciativa. A Embrapa, órgão do Ministério da Agricultura, auxilia os pecuaristas com técnicas de manejo animal e que aumentam a produtividade.

Uma ferramenta simples empregada é a rotatividade entre pastagem e cultivo, o que serve para recuperar o solo, amplia a renda e evita o desmatamento para abrir novas áreas para o gado. Há também o braço trabalhista e empresarial, que é gerenciado pelo Sebrae e o Ministério do Trabalho.

'Não gosto de dizer que sou fazendeiro, palavra que tem hoje um sentido negativo. Prefiro dizer que somos produtores rurais. Vivemos novos tempos, um novo modo de agir no campo. Exige-se muito do produtor, é preciso agora também criar ferramentas para melhorarmos', diz o pecuarista local Lazir Soares.

O projeto abrange atualmente 16 propriedades que somam 50 mil hectares e cerca de 90 mil cabeças de gado. O objetivo é em breve alcançar 20 imóveis e depois se expandir ainda mais. A produtividade média na região é de 0,8 cabeças de gado por hectare, o que já subiu em alguns casos para entre duas e três cabeças por hectare.

'A ideia é criar um selo de qualidade e ampliar o projeto, para ele não se tornar uma ilha de tecnologia. Queremos desenvolver cumprindo a lei. Para exigirmos um preço melhor de nosso gado e a carne da região chegar na ponta da cadeia, aos supermecados, e os consumidores saberem que se trata de um produto sustentável', afirma o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de São Félix do Xingu, Wilton Batista. EFE


Fonte: G1

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