São Félix do Xingu, 14 ago (EFE).- Quem chega hoje em São
Félix do Xingu, município do sul do Pará que tem aproximadamente o mesmo
tamanho de Portugal e o maior rebanho bovino do Brasil, e vê produtores rurais,
frigoríficos, ONGs e poder público atuando juntos para adotar práticas mais
sustentáveis na pecuária não imagina o cenário em que a região se encontrava há
cerca de quatro anos.
'Quando chegamos em São Félix para conversar com os
produtores rurais, fomos recebidos com faixas e protestos que pediam nossa
saída. Órgãos ambientais eram vistos como repressores, e ONG's como empecilhos
ao desenvolvimento. Hoje, a filosofia mudou, não basta só reprimir', conta o
norte-irlandês Ian Thompson, diretor do Programa Amazônia da ONG The Nature
Conservancy (TNC).
Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente publicou a lista
com os municípios brasileiros que mais desmatam, o que na prática significou o
corte de crédito e outras dificuldades para os campeões do desflorestamento.
São Félix do Xingu entrou na lista negra e sua economia
sofreu um forte baque econômico. No ano seguinte, o Ministério Público Federal
Publicou publicou o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) da pecuária no Pará,
que proibiu proprietários que desmatam de comercializar seu gado, e
frigoríficos de comprar de quem não respeita uma série de normas ambientais e
trabalhistas.
Como resposta à crise, os próprios frigoríficos
convidaram a TNC para atuar na região inscrevendo as propriedades locais no
Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que já tinha sido feito com sucesso pela
organização ambiental em outro município do estado, Paragominas.
Uma das condições para os municípios saírem da lista
negra do desmatamento é terem 80% de suas propriedades no CAR, espécie de CPF
rural. Outra é reduzir o desmatamento para menos de 40 km² por ano (São Félix
tem uma área de 84 mil km²).
'O CAR utiliza imagens de satélite para mapear os imóveis
rurais. A partir dele, é possível auxiliar o produtor a identificar e recuperar
as áreas de Reserva Legal e Proteção Permamante que precisam ser restauradas.
Os pecuaristas só podem vender gado se tiverem CAR, e os frigoríficos só podem
comprar de quem tem', explica Fábio Pereira, gerente de adequação ambiental da
TNC no sul do Pará.
No ano passado, surgiu mais uma iniciativa que se une aos
esforços para desenvolver a região: o Grupo Marfrig e a rede Walmart decidiram
apoiar em de São Félix do Xingu e na vizinha Tucumã o projeto Pecuária Mais
Sustentável, que tem como objetivo tornar o setor mais responsável e rentável.
A TNC cuida da gestão ambiental dos imóveis que fazem
parte da iniciativa. A Embrapa, órgão do Ministério da Agricultura, auxilia os
pecuaristas com técnicas de manejo animal e que aumentam a produtividade.
Uma ferramenta simples empregada é a rotatividade entre
pastagem e cultivo, o que serve para recuperar o solo, amplia a renda e evita o
desmatamento para abrir novas áreas para o gado. Há também o braço trabalhista
e empresarial, que é gerenciado pelo Sebrae e o Ministério do Trabalho.
'Não gosto de dizer que sou fazendeiro, palavra que tem
hoje um sentido negativo. Prefiro dizer que somos produtores rurais. Vivemos
novos tempos, um novo modo de agir no campo. Exige-se muito do produtor, é
preciso agora também criar ferramentas para melhorarmos', diz o pecuarista
local Lazir Soares.
O projeto abrange atualmente 16 propriedades que somam 50
mil hectares e cerca de 90 mil cabeças de gado. O objetivo é em breve alcançar
20 imóveis e depois se expandir ainda mais. A produtividade média na região é
de 0,8 cabeças de gado por hectare, o que já subiu em alguns casos para entre
duas e três cabeças por hectare.
'A ideia é criar um selo de qualidade e ampliar o
projeto, para ele não se tornar uma ilha de tecnologia. Queremos desenvolver
cumprindo a lei. Para exigirmos um preço melhor de nosso gado e a carne da
região chegar na ponta da cadeia, aos supermecados, e os consumidores saberem
que se trata de um produto sustentável', afirma o presidente do Sindicato dos
Produtores Rurais de São Félix do Xingu, Wilton Batista. EFE
Fonte: G1
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